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O que é Política Cambial e como pode afetar seus projetos.

Atualizado: 23 de nov. de 2023

Guia para empreendedores e executivos para auxiliar nas tomadas de decisões em relação à variação das moedas estrangeiras e as Políticas Cambiais. Tudo que você precisa saber sobre o assunto.




Como as Políticas Econômicas, especialmente a Política Cambial, podem impactar no resultado da sua empresa? Qual a correlação da Política Cambial com a variação do dólar? E qual o impacto da variação do dólar para o seu negócio?


Se você é um empreendedor ou empresário é importante entender um pouco das questões levantadas anteriormente, ou o seu negócio poderá estar com os dias contados. Não há necessidade de ser um especialista em economia e nem estar 100% atualizado nas notícias dos mercados, mas ter noções básicas sobre as variáveis econômicas que podem "machucar" seu negócio e entender os efeitos que podem ser causados por medidas de um governo e/ou movimentos no mundo, pode salvar sua empresa, gerar oportunidades, reduzir riscos e até ajudar a entender as razões pelas quais um projeto não deu certo.


O que é Política Cambial? Qual a relação com o seu negócio?


A Política Cambial é um conjunto de medidas estratégicas adotadas pelos governos para influenciar (ou não) a variação da moeda nacional em relação às moedas estrangeiras. Podem ser estratégias intervencionistas (Câmbio Fixo, Bandas Cambiais e Câmbio Flexível Administrável) ou não intervencionistas (Câmbio Flexível Puro). Também, podem ser denominadas como estratégias de regimes de Câmbio Fixo, Flutuação Suja e Livremente Flutuante. O Banco Central (BACEN) é o agente responsável por implementar tais medidas que podem influenciar ou não a taxa de câmbio. Além da definição estratégica para o Regime Cambial, também faz parte do escopo do BACEN a gestão das reservas internacionais, ou seja, o volume de moeda estrangeira no "caixa nacional".


A seguir, algumas variáveis e definições:

  • Taxa de câmbio: Preço da moeda nacional em relação a uma unidade de moeda estrangeira.

  • Reservas internacionais: Volume (caixa) de moeda estrangeira sob gestão do Banco Central. Variação relacionada ao saldo em Transações Correntes e saldo de Conta de Capitais.

  • Regime cambial: Definição de regras de funcionamento do mercado cambial. Se haverá controle e quais serão os parâmetros e limites para a atuação do Banco Central.

    1. Câmbio Fixo: O Governo compra ou vende dólar para manter o valor da moeda fixo conforme estratégia. Ex.: A meta do Governo de US$1,00 para R$1,00. Hipótese 1: Oferta maior que a demanda de dólares no mercado, fazendo com que o valor do dólar caia para R$0,80, o Governo atuaria pagando o valor de R$1,00 por cada dólar a venda. Hipótese 2: Demanda maior que a oferta de dólares no mercado, fazendo com que o valor do dólar suba para R$1,20, neste cenário o Governo atuaria vendendo suas reservas de dólares a um valor de R$1,00 por cada dólar. Em ambas as hipóteses o governo atuaria trazendo o valor do dólar para próximo a meta, por essa razão é denominado regime de Câmbio Fixo.

    2. Bandas Cambial: O Governo define valor mínimo e máximo para o dólar e atua vendendo ou comprando conforme as variações da moeda cheguem perto dos valores limites pré-definidos. Ex.: A meta do Governo do valor do dólar entre R$2,00 a R$3,00. Se próximo a R$2,00 o Governo atua comprando dólar no mercado reduzindo a oferta, se próximo a R$3,00 o Governo atua vendendo suas reservas de dólar no mercado aumentando a oferta da moeda.

    3. Câmbio Flexível Administrável: O Governo compra ou vende dólar somente quando achar pertinente. Não tem valor mínimo ou máximo.

    4. Câmbio Flexível Puro: Governo não intervém, ou seja, não vende nem compra dólar para controlar a taxa de câmbio.


A Política Cambial é um dos temas mais controversos na definição das Política Econômicas dos países, pois são muitas variáveis que podem influenciar na taxa de câmbio, seja por fatores internos ou externos, tais como insegurança política e econômica, concorrência internacional, nível de risco país, crise, guerra, pandemia, turismo, investimentos em títulos públicos e privados por investidores estrangeiros, investimentos direto em projetos com capital estrangeiros e comercialização de produtos internacionais.


Esse cenário ainda é amplificado pela baixa relevância do PIB brasileiro em relação ao PIB global, ou seja, quando há eventos que podem gerar fluxos de dólares no Brasil, esses tendem causar grandes oscilações na taxa de câmbio, mesmo que em uma ótica internacional esse volume de moeda estrangeira seja "baixo", mas para o Brasil, pode ter impacto relevante. Por essa razão é tão difícil prever a direção do dólar. Com certa frequência, muitos economistas e especialistas em taxa de câmbio divergem em suas projeções devido à grande quantidade de fatores que podem influenciar a oscilação. Há um velho ditado que diz:


"A taxa de câmbio foi criada por Deus apenas para humilhar os economistas.”

Contudo, apesar da imprevisibilidade do dólar e de outras moedas estrangeiras, ainda é possível se proteger e antecipar alguns movimentos.


Quais variáveis relacionadas à Política Cambial os profissionais deveriam acompanhar?


De modo geral, as duas variáveis a seguir são bons parâmetros para muitos negócios e podem gerar tanto oportunidade, bem como proteção para cenários ruins.

  • Taxa de câmbio: Se as vendas e/ou os principais custos da sua empresa, como produção, matéria prima, insumos, logística, mão de obra, entre outros, são lastreados em dólar, você precisa acompanhar de perto a variação da taxa de câmbio, pois pode ser vital para o seu negócio.

  • Reservas internacionais: Um pouco menos comum no dia a dia, a variação das Reservas Internacionais podem ajudar em alguns casos. O valor em caixa e a variação das Reservas Internacionais sobre gestão do Banco Central podem ser um indicativo da atuação do Governo para controlar a expansão ou retração da taxa de câmbio. O gráfico a seguir mostra um panorama geral do comportamento das Reservas Internacionais do Brasil.



Os empreendedores e empresários, principalmente o pequeno e médio, acabam acumulando várias funções em seus negócios, e por esta razão é quase impossível acompanhar 100% dos movimentos e variáveis do mercado sem a ajuda de outros profissionais. Por esta razão, é importante concentrar-se apenas no que impacta diretamente seu negócio.


Quais os principais fatores que podem influenciar a variação do câmbio?


A seguir os principais fatores que podem influenciar na variação do câmbio.

  • Compra ou venda de produtos internacionalmente.

  • Investimento público / privado em projetos interno ou externo.

  • Investimento em títulos públicos ou privados.

  • Gastos com consumo via turismo.

  • Insegurança política e econômica.

  • Concorrência internacional (outro país com melhores condições / Ratings).

  • Evento externo (guerra, pandemia, crise, etc).

Mais da metade do dólar transacionado no mundo acontece por questões especulativas. Isso aumenta a volatilidade da taxa de câmbio.


Como as estratégias da Política Cambial podem impactar seu negócio?


Utilizando o esquema a seguir para facilitar o entendimento das relações de causa e efeito entre a compra e venda do dólar pelo governo de acordo com as estratégias da Política Cambial.

  1. Comprar Dólar = Dólar (↑) | Real (↓) = BC (↑) = IGP-M (↑) = J (↑) = C (↓) = I (↓) = G (↓) …

  2. Vender Dólar = Dólar (↓) | Real (↑) = BC (↓) = IGP-M (↓) = J (↓) = C (↑) = I (↑) = G (↑) …

Caso a: Supondo que o governo atue comprando dólar no mercado. Há uma tendência do dólar se valorizar e o real se desvalorizar devido a redução do volume de dólar disponível para transações no mercado. Com o dólar se valorizando frente ao real há uma tendência de aumento da atratividade para exportação que consequentemente pressiona positivamente a melhora no resultado da Balança Comercial (BC).


Por outro lado, o custo de importação tende a aumentar devido ao dólar mais caro, que consequentemente pressiona os custos de produção e de outros produtos e serviços atrelados ao IGP-M, que tendem a aumentar. Commodities mais cara em geral tendem a gerar inflação (aumento dos custos dos produtos e serviços), tais como IGP-M, IPCA, IPA, IPC, INCC, entre outros, que consequentemente reduzem o consumo (C), pois inflação alta traz taxa de juros (J) elevada, que torna o crédito mais caro e menos acessível, assim reduzindo a atividade econômica de consumo.


Inflação e taxa de juros mais alta também reduzem o investimento privado (I), pois crédito mais caro tende a inviabilizar muitos projetos de implementação e/ou expansão, reduzem o resultado das empresas alavancadas e podem impactar nas vendas devido a queda da demanda causada pela redução no consumo.


Até o investimento público (G), tais como programas e infraestrutura ficam prejudicados, pois com a taxa de juros alta a dívida pública fica maior, prejudicando o equilíbrio fiscal e a manutenção do tripé macroeconômico.


Caso b: Supondo que o governo atue vendendo dólar no mercado. Há uma tendência do dólar se desvalorizar e o real se valorizar devido ao aumento do volume de dólar disponível para transações no mercado. Com o dólar se desvalorizando frente ao real há uma tendência de aumentar a competitividade local, ou seja, empresas que antes estavam exportando tendem temporariamente (ou não) a focar no comércio local, além disso há um estímulo para a importação e entrada de empresas estrangeiras. Neste cenário, a Balança Comercial (BC) tende a ser negativa, ou seja, maior volume de importação do que exportação.


O custo de produção tende a reduzir, principalmente para empresas com os principais custos vinculados a commodities, o que consequentemente favorece a deflação dos produtos e serviços, aumento de competitividade e redução da taxa de juros (J), proporcionando o aumento do crédito, consumo (C), investimento privado (I), gasto público (G), entre outros.


É importante destacar que o dólar é apenas uma variável em todo o ecossistema, ou seja, é incapaz de gerar uma mudança sozinho. Há momentos em que é a causa e outros em que é o efeito. Os cenários simulados acima mostram apenas tendências hipotéticas, que devem ser analisadas caso a caso.


Vale ressaltar que para cada setor da economia e para cada empresa existem prós e contras com pesos distintos, ou seja, tanto a valorização como a desvalorização do dólar podem ter impactos diferentes. Cada empresa deve fazer um estudo personalizado do seu mercado e mapear os principais fatores e seus respectivos pesos na sua estrutura. Nestes casos é recomendado a parceria com empresas de consultoria especializadas.


Quais os principais erros cometidos pelas empresas em relação às medidas da Política Cambial?


Citando apenas 3:

  • Falta de mapeamento das correlações entre a estrutura de custo e o dólar. Em outras palavras, saber qual impacto na estrutura orçamentária a variação do dólar pode causar, seja no resultado de vendas ou na estrutura de custos.

  • Falta do acompanhamento macro das tendências e fatores que podem afetar um determinado setor ou indústria. A falta de acompanhamento faz com que as empresas não façam proteções (hedge).

  • Falta de diversificação de portfólio de produtos ou serviços, ficando expostos a variação do dólar e suas consequências.


 

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Autor: Luis Dornela

Data: 23/02/2023

 

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